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Fudeu

Agora ela conseguiu me ferrar mesmo! Queria controlar minha vida e quando eu poderia encontrar meus brothers e tal. Mandei à merda. Foi ficando cada vez mais chata. E tudo foi piorando devagar, sem que imaginasse onde ia chegar, foi apodrecendo. Um dia saia curta, coxão de fora, peguei forte no braço, ficou a marca. No outro, batom vermelho, dei um tabefe. Mas aí, foi ela que pediu. Não tive saída. Na gravidez ficou insuportável, mostrando o peitão. Eu não queria, mas dei outros tabefes. Virou rotina. Queria regular a minha cerveja. Quando minha filha já tinha três anos, aquela vaca tava demais. Calça apertada, sacudindo o popozão e dizendo coisinhas pra ensinar mal à criança. Perdi a cabeça. Ainda por cima, a irmã dela tava lá. Não aguentei. Comecei a socar e quando caiu, se fazendo de machucada, dei uns pontapés. Nem sei quantos. Minhas mãos e pés se mexiam por conta. A piranha foi pro hospital. E, pra ferrar com a minha vida, acabou morrendo. Diz que teve perfuração do int
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A CASA IMPLODIDA

Na primeira noite, 15 minutos depois das dez, há pouco movimento na avenida. Uma figura feminina jovem caminha com pressa, uma mochila às costas. Dobra a esquina e, feito um felino, transpõe o tapume de lata que delimita o local, onde até pouco tempo havia uma casa. Tão logo entra, se dirige ao fundo do pátio, onde o escuro a torna invisível. Caso houvesse chegado à janela um pouco antes, talvez visse um monstro a perseguindo. Seu dormitório seria ali? Passei algumas vezes na casa implodida e vi que o tapume mostra sinais de esgarçamento, indicando que está sendo transposto por um corpo mais pesado do que gatos comuns. Durante o dia a moça fica invisível. Na segunda noite, a mesma cena se repete. Na terceira noite, não aparece. O monstro venceu o duelo.

Ameaças

Marina foi esganada e tem um travesseiro sobre o rosto. Sua maninha de 2 anos chora porque a irmã não fala com ela. Marina Fagundes Laranjeira sempre morou com a mãe. Do pai nunca teve notícias. Sua mãe desconversava toda a vez que o assunto vinha à baila. Marina nasceu quando Lourdes Fagundes Laranjeira tinha 14 anos de idade. Nunca contou pro filho da patroa da mãe que ele devia ser o pai de seu bebê. A mãe de Lourdes logo foi demitida daquele trabalho e a paternidade esquecida pra sempre. Aos trinta anos, Lourdes conhece Amauri da Silva. É paixão braba. Nove meses após, nasce sua segunda menina, Larissa Laranjeira da Silva. Vivem bem, em família, até Larissa completar 2 aninhos. Marina cuida da maninha pra que sua mãe e o padrasto saiam pro trabalho. Amauri é ajudante de pedreiro. Lourdes trabalha em faxinas. A relação do casal começa a esfriar. O amor encontra Lourdes outra vez. Parece feitiço, não consegue ficar longe do novo amado. Até o tempo que passa com as filhas é um cast

PLACEBO

Marlene precisou interromper seu isolamento pra socorrer a vizinha amiga, Emoacyl. Convivem há décadas, são comadres. Uma sabe mais da outra que qualquer pessoa da família. Parece que uma é a familiar mais próxima da outra. A amiga conta que encontrou Emoacyl caída com muito sangue à volta, toda suja e malcheirosa. Chamou a ambulância. Eles ligaram pra Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar. Emoacyl acordou com uma luz branca forte nos olhos. Custou a entender onde estava. Rostos desconhecidos, só os olhos de fora das máscaras a olhavam com uma expressão de cansaço. Ela também sentia grande exaustão, uma dor na cabeça e na boca do estômago, começou a lembrar um embrulho de coisas, tudo emaranhado. Diz que durante o jantar, Hermógenes jogou comida na parede pois teria achado tudo ruim. Ela correu pro banheiro com a mão na boca, em golfadas toda a janta foi devolvida. Ele entrou atrás e xingando socava sua cabeça dentro do vaso, ela resistia. Com força ele a empurrou e bateu-lh

ROLETA RUSSA

    Mais uma briga. Gritos. Ele manda a mulher calar a boca, não aguenta mais a voz dela. Diz que seu cheiro é igual ao do cachorro. Bate a porta, sai. No boteco de sempre encontra parceiros que não perguntam nada, jogam sinuca, bebem, fumam, cheiram uma pura.   Na madrugada, volta bêbado, gritando palavrões e dizendo pra deixar ele entrar. Ela tinha jurado que não abriria outra vez, mas abriu. Ele cambaleava e tava ruim do estômago. Seu cheiro era pior que o do cachorro, contava do álcool, do cigarro, do mijo nas calças, de perfume feminino barato. Resolveu fazer um chá pra ele não acordar as crianças. Preparou a bebida, serviu e levou pro bêbado que entre um palavrão e outro, tomou tudo. Duas horas depois acordou berrando de dor na barriga. Ela resolveu não escutar as queixas. No outro dia pela manhã, Maria levou João ao Pronto Atendimento. Ele tinha hemorragia interna. Foi a óbito no mesmo dia. Fui na casa pra   fechar o inquérito, precisava de alguns detalhes. Quando

SHOW DE PAUL MACCARTNEY

Show de Paul MacCartney Testemunhei o momento exato em que ela saía com labaredas nos cabelos, caminhando, pronta a levantar voo. Assim nossa vizinha saiu da casa em chamas, no sítio ao lado do nosso na zona sul de Porto Alegre. Chegou em nossa casa pra receber os primeiros socorros, ouvi quando disse que mesmo tendo fogo no estômago, havia deixado só cinzas para trás. Pegou todas as coisas de valor, dentre elas os ingressos pro show de Paul MacCartney. Carregava uma bolsa pequena a tiracolo. Nos dias seguintes senti uma mistura de falta da vizinha, com suas aulas particulares ajudando na preparação pras provas, das conversas boas, dos empréstimos de livros e também alívio. Não aguentava quando o marido dela chegava bêbado tarde da noite e gritava palavrões, xingava. Ouvia fortes batidas nas paredes, acho que com a cabeça dela. Muitas vezes ela trazia os olhos inchados de chorar. Não tenho certeza, mas parece que o marido morreu no hospital, estava muito alcoolizado quando o fogo

Décimo Andar

Décimo Andar Na capa do jornal matinal uma notícia chama atenção: “Após mais uma discussão habitual, no dizer dos vizinhos, com gritaria, palavrões ebarulhos de pancadaria, a mulher caiu do décimo andar do prédio onde moravam. O marido se mostra triste e fora de si.” Ontem à noite tivemos mais uma briga, ainda tô com o olho roxo, preciso ir ao atendimento médico. Não posso trabalhar assim. Já dei todas as desculpas imagináveis. O médico vai perguntar o que foi. Vou dizer que resvalei no box na hora do banho, bati a cabeça no vaso sanitário. Que vergonha! Ele saiu pra noite e não voltou até agora. Preciso terminar isso antes que o pior aconteça. Sempre foi assim. Os vizinhos devem ouvir, que vergonha! Depois ele chega bêbado, se fazendo de vítima, como se a culpada de tudo fosse eu. Acabo perdoando ou deixando a coisa continuar assim por mais tempo, mas até quando? Até o que acontecer? O que tô esperando? Preciso viver isso? Já ouvi tantas histórias de relações complicadas, esses di