Explosões de Raiva
Em 2011 recebi meu apartamento. Comprei na planta ainda, analisei o projeto, acompanhei a construção, pensei no mobiliário. O condomínio fica próximo ao centro, bem situado, com mata nativa no fundo do terreno, toda infra-estrutura, com Box coberto, elevadores, piscina. A unidade é muito ensolarada, arejada e bem iluminada.
Coloquei piso flutuante nos quartos e sala, escolhi um tom bem claro.
Quando fiz a mudança nem tinha móveis pra todos os cômodos. Aos poucos comecei a mobiliar. Escolhi um projeto lindo pra cozinha e banheiros. Havia comprado fogão e geladeira. Tinha máquina de lavar roupa, colchão, sofá, roupeiro. Com os pés na realidade e sem esquecer minha origem camponesa, fui comprando móveis rústicos, primeiro uma mesa, linda, robusta, de tamanho certo, depois cadeiras simples, de palhinha, uma papeleira, uma cristaleira, um móvel pra tv.
Meu quarto, estilo colonial veio de Herval, onde estava guardado na casa da minha mãe. Comprei colchão adequado ao tamanho da cama.
Estava satisfeita com meu cantinho. Meus livros e cds expostos. O lar tinha minha cara, gostei disso. De lá, podia ver o nascer do sol, grande parte da cidade, os morros verdes, o movimento louco do trânsito. Com a portaria 24 horas e no décimo andar, me sentia segura
Trabalhava manhã, tarde e noite. Nos finais de semana curtia a vida e projetava que ainda precisava comprar carro pra diminuir o tempo de deslocamento até o trabalho. Encaminhei a compra do carro, um gol zero, lindo, cinza urano.
Sentia solidão e não queria ficar sozinha pra desfrutar de todo esse bem-estar. Queria um companheiro.
Em janeiro do ano seguinte encontrei alguém. Em outro momento, conto sobre este encontro. Muito no início do relacionamento esta pessoa começou a apresentar crises de explosão de raiva. Bebia e ficava agressivo, perseguidor.
Cansada e sem querer “bater boca”, brigar nos poucos momentos livres que tinha, me encerrei no quarto da suíte. Ele veio atrás aos gritos. Não abri, ele deu um chute na porta e rebentou a lâmina externa em dois pontos.
Abri e chorava de raiva. Ele sentia prazer em me ver chorando. Não aparentava nenhum constrangimento pelo estrago, pelo ato. Ainda jogava pra mim a responsabilidade por sua atitude.
Cada parte destruída por ele na casa era como um machucado em meu corpo. Este sentimento talvez fosse um prenúncio dos ataques finais. Inventei uma solução pra não deixar ninguém ver aquela porta assim. Coloquei um painel preto e nele afixei fotos diversas.
Tentei manter essas questões em sigilo. E cada vez tinha mais vergonha do relacionamento e imaginava diálogos com meu pai, onde ele reprovava tudo isso. Parecia ouvi-lo dizer: "Não te afoga em pouca água, minha filha!"
Agora ela conseguiu me ferrar mesmo! Queria controlar minha vida e quando eu poderia encontrar meus brothers e tal. Mandei à merda. Foi ficando cada vez mais chata. E tudo foi piorando devagar, sem que imaginasse onde ia chegar, foi apodrecendo. Um dia saia curta, coxão de fora, peguei forte no braço, ficou a marca. No outro, batom vermelho, dei um tabefe. Mas aí, foi ela que pediu. Não tive saída. Na gravidez ficou insuportável, mostrando o peitão. Eu não queria, mas dei outros tabefes. Virou rotina. Queria regular a minha cerveja. Quando minha filha já tinha três anos, aquela vaca tava demais. Calça apertada, sacudindo o popozão e dizendo coisinhas pra ensinar mal à criança. Perdi a cabeça. Ainda por cima, a irmã dela tava lá. Não aguentei. Comecei a socar e quando caiu, se fazendo de machucada, dei uns pontapés. Nem sei quantos. Minhas mãos e pés se mexiam por conta. A piranha foi pro hospital. E, pra ferrar com a minha vida, acabou morrendo. Diz que teve perfuração do int
Comentários
Postar um comentário