Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2021

A CASA IMPLODIDA

Na primeira noite, 15 minutos depois das dez, há pouco movimento na avenida. Uma figura feminina jovem caminha com pressa, uma mochila às costas. Dobra a esquina e, feito um felino, transpõe o tapume de lata que delimita o local, onde até pouco tempo havia uma casa. Tão logo entra, se dirige ao fundo do pátio, onde o escuro a torna invisível. Caso houvesse chegado à janela um pouco antes, talvez visse um monstro a perseguindo. Seu dormitório seria ali? Passei algumas vezes na casa implodida e vi que o tapume mostra sinais de esgarçamento, indicando que está sendo transposto por um corpo mais pesado do que gatos comuns. Durante o dia a moça fica invisível. Na segunda noite, a mesma cena se repete. Na terceira noite, não aparece. O monstro venceu o duelo.

Ameaças

Marina foi esganada e tem um travesseiro sobre o rosto. Sua maninha de 2 anos chora porque a irmã não fala com ela. Marina Fagundes Laranjeira sempre morou com a mãe. Do pai nunca teve notícias. Sua mãe desconversava toda a vez que o assunto vinha à baila. Marina nasceu quando Lourdes Fagundes Laranjeira tinha 14 anos de idade. Nunca contou pro filho da patroa da mãe que ele devia ser o pai de seu bebê. A mãe de Lourdes logo foi demitida daquele trabalho e a paternidade esquecida pra sempre. Aos trinta anos, Lourdes conhece Amauri da Silva. É paixão braba. Nove meses após, nasce sua segunda menina, Larissa Laranjeira da Silva. Vivem bem, em família, até Larissa completar 2 aninhos. Marina cuida da maninha pra que sua mãe e o padrasto saiam pro trabalho. Amauri é ajudante de pedreiro. Lourdes trabalha em faxinas. A relação do casal começa a esfriar. O amor encontra Lourdes outra vez. Parece feitiço, não consegue ficar longe do novo amado. Até o tempo que passa com as filhas é um cast

PLACEBO

Marlene precisou interromper seu isolamento pra socorrer a vizinha amiga, Emoacyl. Convivem há décadas, são comadres. Uma sabe mais da outra que qualquer pessoa da família. Parece que uma é a familiar mais próxima da outra. A amiga conta que encontrou Emoacyl caída com muito sangue à volta, toda suja e malcheirosa. Chamou a ambulância. Eles ligaram pra Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar. Emoacyl acordou com uma luz branca forte nos olhos. Custou a entender onde estava. Rostos desconhecidos, só os olhos de fora das máscaras a olhavam com uma expressão de cansaço. Ela também sentia grande exaustão, uma dor na cabeça e na boca do estômago, começou a lembrar um embrulho de coisas, tudo emaranhado. Diz que durante o jantar, Hermógenes jogou comida na parede pois teria achado tudo ruim. Ela correu pro banheiro com a mão na boca, em golfadas toda a janta foi devolvida. Ele entrou atrás e xingando socava sua cabeça dentro do vaso, ela resistia. Com força ele a empurrou e bateu-lh

ROLETA RUSSA

    Mais uma briga. Gritos. Ele manda a mulher calar a boca, não aguenta mais a voz dela. Diz que seu cheiro é igual ao do cachorro. Bate a porta, sai. No boteco de sempre encontra parceiros que não perguntam nada, jogam sinuca, bebem, fumam, cheiram uma pura.   Na madrugada, volta bêbado, gritando palavrões e dizendo pra deixar ele entrar. Ela tinha jurado que não abriria outra vez, mas abriu. Ele cambaleava e tava ruim do estômago. Seu cheiro era pior que o do cachorro, contava do álcool, do cigarro, do mijo nas calças, de perfume feminino barato. Resolveu fazer um chá pra ele não acordar as crianças. Preparou a bebida, serviu e levou pro bêbado que entre um palavrão e outro, tomou tudo. Duas horas depois acordou berrando de dor na barriga. Ela resolveu não escutar as queixas. No outro dia pela manhã, Maria levou João ao Pronto Atendimento. Ele tinha hemorragia interna. Foi a óbito no mesmo dia. Fui na casa pra   fechar o inquérito, precisava de alguns detalhes. Quando