Pular para o conteúdo principal

ROLETA RUSSA

 


 

Mais uma briga. Gritos. Ele manda a mulher calar a boca, não aguenta mais a voz dela. Diz que seu cheiro é igual ao do cachorro.

Bate a porta, sai. No boteco de sempre encontra parceiros que não perguntam nada, jogam sinuca, bebem, fumam, cheiram uma pura.  Na madrugada, volta bêbado, gritando palavrões e dizendo pra deixar ele entrar. Ela tinha jurado que não abriria outra vez, mas abriu. Ele cambaleava e tava ruim do estômago. Seu cheiro era pior que o do cachorro, contava do álcool, do cigarro, do mijo nas calças, de perfume feminino barato.

Resolveu fazer um chá pra ele não acordar as crianças. Preparou a bebida, serviu e levou pro bêbado que entre um palavrão e outro, tomou tudo.

Duas horas depois acordou berrando de dor na barriga. Ela resolveu não escutar as queixas. No outro dia pela manhã, Maria levou João ao Pronto Atendimento. Ele tinha hemorragia interna. Foi a óbito no mesmo dia.

Fui na casa pra  fechar o inquérito, precisava de alguns detalhes. Quando vi o veneno pra rato em cima da prateleira da cozinha, visualizei toda a cena.  A ideia crescia há algum tempo na cabeça de Maria, tomava vulto feito um monstro. Tinha a faca de churrasco, a machadinha e aquele veneno pra rato. Ela não aguentava mais as humilhações, as ameaças. Sabia que um dia ele passaria da ameaça à ação. Encerrei o caso.

 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MULHERES TRABALHADORAS

Mulheres Trabalhadoras Saía e voltava só na madrugada fazendo barulho, me acordando, após cada explosão de raiva, cada crise de gritos, ameaças e tentativas de me trancar em algum lugar da casa ou no carro. Em muitas manhãs saí pra trabalhar com muito sono, mas aliviada de não ter que ficar junto com a pessoa. Aprendi a conviver com esses rompantes de diferentes maneiras. Às vezes ficava muda, lembrando a avó Solita, outras, acho que não me dava conta do que estava acontecendo e ainda argumentava, tentando chama-lo à razão. Em outros momentos, entrava na onda e gritava, me enfurecia também. Esta reação me deixava muito mal, pois percebia o poder que a pessoa tinha de comandar até meus sentimentos, reações. Meu coração disparava. Nos últimos tempos, durante período em que estava trabalhando menos, em Férias ou Licenças, comecei a sentir mais nojo, até o fato de sentar à mesa junto me incomodava. Preparava o alimento com cuidado, procurando não passar energia ruim pras panelas e sen...

Fudeu

Agora ela conseguiu me ferrar mesmo! Queria controlar minha vida e quando eu poderia encontrar meus brothers e tal. Mandei à merda. Foi ficando cada vez mais chata. E tudo foi piorando devagar, sem que imaginasse onde ia chegar, foi apodrecendo. Um dia saia curta, coxão de fora, peguei forte no braço, ficou a marca. No outro, batom vermelho, dei um tabefe. Mas aí, foi ela que pediu. Não tive saída. Na gravidez ficou insuportável, mostrando o peitão. Eu não queria, mas dei outros tabefes. Virou rotina. Queria regular a minha cerveja. Quando minha filha já tinha três anos, aquela vaca tava demais. Calça apertada, sacudindo o popozão e dizendo coisinhas pra ensinar mal à criança. Perdi a cabeça. Ainda por cima, a irmã dela tava lá. Não aguentei. Comecei a socar e quando caiu, se fazendo de machucada, dei uns pontapés. Nem sei quantos. Minhas mãos e pés se mexiam por conta. A piranha foi pro hospital. E, pra ferrar com a minha vida, acabou morrendo. Diz que teve perfuração do int...

DISTÂNCIA NECESSÁRIA

       Distância Necessária   A pergunta "o que tô fazendo comigo?" me acompanhava nos momentos mais lúcidos dos últimos tempos. Por que me submeter a um relacionamento ácido, que me deixava infeliz, me fazia doente, quando me programei pra viver plenamente este período de maturidade com os filhos independentes, quase aposentada? Feito um atleta que tem toda uma preparação física e psicológica fui me preparando pra tomar a decisão saudável. Não decidi racionalmente, aconteceu feito uma semente que cumpre o mistério da germinação. De novo a vida ou destino me favoreceram. Com a enfermidade e hospitalização de minha mãe em Herval, necessitei ir até lá. O "companheiro" e eu havíamos acertado essa viagem e estávamos organizando tudo pra esse fim. Com o surto que teve, acabei indo só. Ir sozinha trouxe algumas condições propícias pro desfecho que houve. A primeira e essencial foi dirigir mais ou menos 400 km. Minha habilitação não é tão antiga, não tenh...