Na primeira noite, 15 minutos depois das dez, há pouco movimento na avenida. Uma figura feminina jovem caminha com pressa, uma mochila às costas. Dobra a esquina e, feito um felino, transpõe o tapume de lata que delimita o local, onde até pouco tempo havia uma casa. Tão logo entra, se dirige ao fundo do pátio, onde o escuro a torna invisível.
Caso houvesse chegado à janela um pouco antes, talvez visse um monstro a perseguindo.
Seu dormitório seria ali?
Passei algumas vezes na casa implodida e vi que o tapume mostra sinais de esgarçamento, indicando que está sendo transposto por um corpo mais pesado do que gatos comuns.
Durante o dia a moça fica invisível.
Na segunda noite, a mesma cena se repete.
Na terceira noite, não aparece. O monstro venceu o duelo.
Mulheres Trabalhadoras Saía e voltava só na madrugada fazendo barulho, me acordando, após cada explosão de raiva, cada crise de gritos, ameaças e tentativas de me trancar em algum lugar da casa ou no carro. Em muitas manhãs saí pra trabalhar com muito sono, mas aliviada de não ter que ficar junto com a pessoa. Aprendi a conviver com esses rompantes de diferentes maneiras. Às vezes ficava muda, lembrando a avó Solita, outras, acho que não me dava conta do que estava acontecendo e ainda argumentava, tentando chama-lo à razão. Em outros momentos, entrava na onda e gritava, me enfurecia também. Esta reação me deixava muito mal, pois percebia o poder que a pessoa tinha de comandar até meus sentimentos, reações. Meu coração disparava. Nos últimos tempos, durante período em que estava trabalhando menos, em Férias ou Licenças, comecei a sentir mais nojo, até o fato de sentar à mesa junto me incomodava. Preparava o alimento com cuidado, procurando não passar energia ruim pras panelas e sen...
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