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Décimo Andar

Décimo Andar Na capa do jornal matinal uma notícia chama atenção: “Após mais uma discussão habitual, no dizer dos vizinhos, com gritaria, palavrões ebarulhos de pancadaria, a mulher caiu do décimo andar do prédio onde moravam. O marido se mostra triste e fora de si.” Ontem à noite tivemos mais uma briga, ainda tô com o olho roxo, preciso ir ao atendimento médico. Não posso trabalhar assim. Já dei todas as desculpas imagináveis. O médico vai perguntar o que foi. Vou dizer que resvalei no box na hora do banho, bati a cabeça no vaso sanitário. Que vergonha! Ele saiu pra noite e não voltou até agora. Preciso terminar isso antes que o pior aconteça. Sempre foi assim. Os vizinhos devem ouvir, que vergonha! Depois ele chega bêbado, se fazendo de vítima, como se a culpada de tudo fosse eu. Acabo perdoando ou deixando a coisa continuar assim por mais tempo, mas até quando? Até o que acontecer? O que tô esperando? Preciso viver isso? Já ouvi tantas histórias de relações complicadas, esses dias até Luiza Brunet fazia um relato. Mas comigo é diferente. Ele incomoda, bebe, não trabalha, bota meu dinheiro fora mas me ama. É meu companheiro de passeios, de viagens, me defende, me cuida, se preocupa comigo, faz eu me sentir amada. Às vezes é carinhoso. Inferno! Será que ele volta? Ufa! Chegou gritando e cambaleando, com fedor a mijo, bebida, cigarro! Não dá, não quero mais! Chega! Vai embora! Não grita comigo! Me deixa! És muito mais forte que eu! Covarde! Não me empurra! Socorro! Essa janela é muito alta! Vou cair! Aiiiiiiiiiiiiiiii!

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