Show de Paul MacCartney
Testemunhei o momento exato em que ela saía com labaredas nos cabelos, caminhando, pronta a levantar voo. Assim nossa vizinha saiu da casa em chamas, no sítio ao lado do nosso na zona sul de Porto Alegre.
Chegou em nossa casa pra receber os primeiros socorros, ouvi quando disse que mesmo tendo fogo no estômago, havia deixado só cinzas para trás. Pegou todas as coisas de valor, dentre elas os ingressos pro show de Paul MacCartney. Carregava uma bolsa pequena a tiracolo.
Nos dias seguintes senti uma mistura de falta da vizinha, com suas aulas particulares ajudando na preparação pras provas, das conversas boas, dos empréstimos de livros e também alívio. Não aguentava quando o marido dela chegava bêbado tarde da noite e gritava palavrões, xingava. Ouvia fortes batidas nas paredes, acho que com a cabeça dela. Muitas vezes ela trazia os olhos inchados de chorar.
Não tenho certeza, mas parece que o marido morreu no hospital, estava muito alcoolizado quando o fogo se espalhou, respirou a fumaça e não reagiu.
Agora ela conseguiu me ferrar mesmo! Queria controlar minha vida e quando eu poderia encontrar meus brothers e tal. Mandei à merda. Foi ficando cada vez mais chata. E tudo foi piorando devagar, sem que imaginasse onde ia chegar, foi apodrecendo. Um dia saia curta, coxão de fora, peguei forte no braço, ficou a marca. No outro, batom vermelho, dei um tabefe. Mas aí, foi ela que pediu. Não tive saída. Na gravidez ficou insuportável, mostrando o peitão. Eu não queria, mas dei outros tabefes. Virou rotina. Queria regular a minha cerveja. Quando minha filha já tinha três anos, aquela vaca tava demais. Calça apertada, sacudindo o popozão e dizendo coisinhas pra ensinar mal à criança. Perdi a cabeça. Ainda por cima, a irmã dela tava lá. Não aguentei. Comecei a socar e quando caiu, se fazendo de machucada, dei uns pontapés. Nem sei quantos. Minhas mãos e pés se mexiam por conta. A piranha foi pro hospital. E, pra ferrar com a minha vida, acabou morrendo. Diz que teve perfuração do int
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