Diálogos
Valores como liberdade, integridade, qualidade intelectual, sentimentos nobres, coragem e outros são ideais sociais. A profissão de professora é baseada na relação interpessoal, na competência técnica e na autoridade. Há algum tempo essa relação se calcava no medo e não no respeito. A palmatória, os grãos de milho falavam mais alto que a autoridade.
A universalização do ensino básico encheu as salas de aula, o número de estudantes atendidos aumentou. Com os baixos salários, os professores correm de um ambiente de trabalho para outro, qual maratonistas, fazendo até sessenta horas semanais para alcançar uma remuneração de sobrevivência. A tecnologia avança rapidamente, os meninos e meninas dominam algumas técnicas que seu educador desconhece e a algumas nem tem acesso. O problema salarial nos impede de buscar informações, estar atualizados e investir em formação, o que é quesito fundamental da licenciatura.
Não sou adepta da tese (publicada em recente artigo neste jornal: “Fobia de aluno”) que coloca o Estatuto da Criança e do Adolescente como a causa de fazer “com que os professores, em aula, tenham suas autoridades baixadas a zero”, num passe de mágica. Simplesmente se pôr contra o Estatuto e às políticas de quotas parece não resolver a problemática. A crônica policial continua mostrando a infância fragilizada e desprotegida.
A autoridade se constrói no contrato cotidiano da sala de aula, nos acertos com a família e com a mantenedora da escola e passa pelas competências atualizadas. O diálogo com os estudantes sobre os critérios de avaliação e as notas não denigre a figura do professor. A dialogicidade é formadora.
Usar atestado médico para adiar uma avaliação é direito adquirido e respeitado, inclusive quando sabemos que Hipócrates pode se virar no túmulo ao ver alguns. Mas seria uma briga muito desgastante contestar diariamente tal situação.
Os pais podem e devem escolher a escola para seu filho, mesmo que algumas não ofereçam tantas vagas, quanto necessário, principalmente as públicas. Nessa falta de opção é necessário analisar o Projeto Político-Pedagógico e não só a conveniência econômica do estabelecimento, como também a adequação daqueles valores ao ideário de cada grupo familiar.
Não saberia de que escola nos fala o tal artigo, quando se refere “às drogas e ao sexo fácil”. Naqueles colégios que conheço, a realidade não é essa. A droga nos ronda, ameaça constantemente, mas não é como pode parecer ao se ler aquela opinião. A sexualidade, própria do ser humano é presente em todo lugar, no entanto o “sexo fácil” deve ser noutro endereço, não ali, pois a vigilância faz parte do trabalho pedagógico diário. Os professores com os quais convivo não fazem que não veem as coisas erradas, sejam quais forem. Encaminham até a Promotoria Pública, quando esgotadas as soluções pedagógicas ao dispor do colégio.
Este texto foi escrito em resposta a um artigo de um médico que falava muito mal das escolas e dos professores, publicado no jornal "O Diário da Manhã". Este também foi publicado no mesmo jornal, em 2005.
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